º

sábado, 13 de dezembro de 2008

CAPÍTULO XXII

Na minha Cuba-de-Então, que o progresso transformou em Cubatão (sem ao menos me consultar), se cruzava com famílias inteiras, nos calçadões da Nove de Abril, ao cair da tarde...
Falava-se de tudo, na loja do Jorge Farah...
Se tomava sorvete de creme, no antigo bar Sport, na Nove de Abril...
Se jogava conversa fora, na Barbearia do Pedrinho, onde também se lia o jornal do dia...
Se batia foto da família inteira, no Benassi...
Comprava-se a prazo, no Armarinho da Dona Angelina...
Se consultava o filho, no Dr. Mário Ruivo, que não consigo deixar de chamar de Tio Mário...
Falava-se mal do Abel Tenório, mas rezava-se pra ele não ficar sabendo...
Cópias de chaves? Só no Balula...
Fio elétrico? Só na Casa Cacique...
Contabilidade? Só com o Djalma, na Delta...
Pão diário se comprava na Padaria Lisboa, e ferramentas, só na Casa Duarte...
Quando se ia construir, o negócio era passar no Depósito da Guarda...
Se a coisa era Bancária, se procurava o Toninho, no Itaú...
Dos que dizem que a cidade não tem memória, eu discordo...
A memória Cubatense está como que arquivada, na memória...
Na memória de do Dr. Armando Terras; do Jaiminho Ruivo; da Márcia Carolina; do Renato Cunha; da Marilene Monte Real; do Dr. Armando Campinas Reis; do Marcos Campinas; da Silvana Nogueira Campinas, que hoje também é Barbosa, e mãe de dois filhinhos, morando hoje no Casqueiro...
Cada um deles, guarda seu pedaço da Cuba-de-Então, que virou Cubatão, uma Metrópole em miniatura...
Na Cuba-de-Então, pobre era pobre, mas tinha dignidade...
Na Cubatão, pobre é miserável, sobrevive em casebres come uma vez por dia , tem um filho por ano, e respira por pura teimosia...
Existem aqueles, que gostam de dizer, que estou ficando velho, e como todo velho, saudosista...
De fato, já bato às portas do meio século e passei por elas...
Depois dos quarenta, a gente começa a se sentir um perfeito Maomé, com direito a cabelos brancos, esquecimentos esporádicos, falta de sono, tesão recolhido...
Ainda não cheguei no esquecimento de braguilhas abertas, nem nos sonhos erótico-masoquistas...
Esqueço, vez ou outra, nomes de amigos queridos, mas ainda não sou um velho...
A vida resolveu dar-me o direito de vivê-la, e sou-lhe grato por isso!
Se falta-me caminhos a percorrer, espaços por conquistar, sobra-me (não duvidem) vontade e desejo de ir em frente, usando os anos que já passaram como experiência para o futuro...
Colocando tudo na balança, para a devida reflexão, tive uma vida boa... Sem perdas conflitantes...
A vida permitiu-me vê-la e vivê-la , sem ter que olhar pra traz e me arrepender... Não lamento nada, de meu passado. Não sinto medo do futuro!
Ao conhecer a vida, ela deslumbrou-me com o mostrar do mundo, e só este ato, deu-me a certeza de que o viver vale a pena...
Cada dor sentida, recebeu o bálsamo, que cicatrizou a ferida, que não dói mais...
Lições? Por certo a vida deu-me muitas...
Verdades? Conheci algumas...
Amigos? Conquistei uns poucos...
Amores? Ja tive alguns, que o tempo resolveu mandar de ferias, sei lá pra onde!
Sonhos? Realizei alguns, e acordei de uns outros...
Mágoas? Foram apenas algumas... Poucas, que o equilíbrio entre o certo e o errado, se encarregou de fazer sumirem...

Nenhum comentário:

Postar um comentário