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sábado, 13 de dezembro de 2008

PROLOGO

Vou tentar, nas páginas que irão ler, dar minha versão da cidade que é meu berço, o marco primeiro da minha existência física, pois a espiritual, não sei onde começou...
Essa tal cidade, não é tão diferente das outras cidades destes Brasis, e logo vocês vão ter o prazer de descobrir o porquê...
Entre a "diferença" e a "indiferença", está uma tal de "Lei da Gravidade Intestinal", e tendo minha cidade um punhado bom disto ( principalmente na sua Câmara de Vereadores) , não consegue afundar, como as outras...
Minha terra natal, graças a meia dúzia de políticos porretas, já nasceu com essa tal de Lei, entre suas muitas leis, que quase ninguém toma a pachorra de cumprir...
Contam, "de bafo em bafo", que na tal de minha terra natal, mais aumenta o consumo da cachaça, e diminui o uso da vergonha, coisa que usavam muito pouco ( mais uma vez, na Câmara dos Vereadores), quando eu saí de lá, e isso já faz algum tempinho...
Conhecer minha cidade...
Êta coisinha boa de se fazer, Uai!!
(Esse "Uai", saiu da mineirisse, que aprendi no tempo de Minas, lá pelas Gerais... ( Desculpem...)
Em cada cruzamento, daquela que é minha terra natal, há um buteco bem sortido e uma banquinha, pro famoso "jogo do bicho", tradição familiar de lá.
Na Prefeitura Municipal, logo que se chega, dá-se de cara com um "Todo Poderoso" Prefeito Municipal.
Prefeito é um sujeito que pensa que está no cargo pra mandar, mas na realidade, sem se dar conta, recebe ordens dos funcionários mais antigos.
Foi eleito, pensa ele, pelos seus dotes pessoais e de inteligência, mas todo mundo sabe que não é bem assim que um Prefeito é eleito... mas vamos deixar "isso" pra outra ocasião, pois afinal estou na Introdução, e ainda falta muito pro final.
Do lado de lá, do Paço Municipal (uma estrutura construída para abrigar os ditos Poderes da Cidade) pode-se, ver uma portinhola, num prédio majestoso. Ali está a Câmara Municipal, a Casa de Leis do Município, onde dezenove seres humanos acham... que mandam em alguma coisa.
Porém, para não cometer injustiças, devo dizer que lá, na tal da Câmara Municipal há suas exceções... Graças a Deus!
Lá na minha cidade, o povo (que é, em tese, o dono daquilo tudo), é chamado de um bocado de nomes: Contribuinte, pela Prefeitura; Paroquianos, pelo vigário da Matriz; Galeria, pela Câmara Municipal; Passageiros, pelo motorista do coletivo; Eleitores, pelos políticos de carreira ( coisa que tem muito, lá na minha terra); Fregueses, pelos donos das diversas mercearias da cidade; Clientes, pela rede comercial e bancária e irmãos, pelos Evangélicos
Mas vamos deixar de contar pequenos causos, e vamos ao livro, que já tem neguinho aí, começando a sentir sono...
Mas é assim mesmo.
Os escritores inventaram a tal da Introdução para cansar o sujeito mesmo. O que esperam é que, cansado, o cara não perceba os erros de ortografia do livro...
A tal da Introdução já está no fim...
Vamos começar o livro já, já...
Calma... Vamos com calma...
Dá um tempo, que eu tenho que terminar, pô!!
Pois é... penso que vocês vão gostar desse meu relato, que saiu de minhas lembranças e de minha memória...
Mas se não gostarem, podem escrever pra mim, esculachando, que eu prometo morrer mais cedo pra valorizar a "obra"!
Fiquem, pois com.... Cuba-de-Então...

CAPÍTULO I

Nessa tal de Cuba-de-Então, nada acontece de extraordinário, a não ser em época de eleição geral...
Aí, a coisa muda de figura!
Lá nasceram muitos outros que, como eu, tiraram e usam, de quatro em quatro anos, o tal do Título de Eleitor...
Mas não foi culpa nossa, termos nascido ali não... A culpa é da sociedade, que trata as crianças como debilóides, e não as deixam escolher onde nascer. Se houvessem me deixado escolher, por exemplo, eu nasceria numa cidade da Suíça, e talvez eu não seria tão bonito e inteligente... Que bom que não me deixaram escolher!!!
Me considero um sujeito "Cubatonizado" por nascimento!
Cuba-de-Então se tornou conhecida mundialmente, porque descobriram que a Dona Poluição, sofria de Bronquite Asmática Crônica...
Nem o Dr. Clemont de Oliveira Castor (especialista neste assunto, e no de ser candidato a prefeito e não ganhar nunca, por ser honesto demais), conseguiu dar cabo da doença...
Quando o caso caiu em suas mãos, teve que internar a Dona Poluição na UTI do Hospital da Comunidade, de onde só saiu para o enterro.
O engraçado é que morreu de otite, depois que um cantor de fama, o tal do "Rei Roberto" cantou pra ela na UTI do Hospital, onde antigamente (e graças a Deus que foi antigamente) ficava localizado o "Vale da Morte"...
Nessa parte da cidade, foi que Judas se recusou a perder suas botas. Se as perdesse por ali, por certo a essa hora, elas já estariam, no Arquivo Histórico Municipal, carregada de poeira e mofo, com uma plaquinha de Patrimônio, colada nas solas...
O enterro da Dona Poluição foi uma festança daquelas, com direito a churrasco de patos roubados na hora, (presente de um político famoso da cidade), e tapinhas (quer dizer, tapões) nas costas, providenciados por outro político, não menos famoso, que usa os ramais telefônicos da Prefeitura e da Câmara, para ligar do nada prá lugar nenhum...

CAPÍTULO II

Eu já contei, mas torno a repetir, porque sou chato (com diploma e tudo, para provar), que nesta tal de Cuba-de-Então só existe diversão, quando acontece a tal da eleição!
Nessa época, vale a pena estar inscrito na Zona... (Eleitoral, é claro)!
Em 1992, o Dr. Planice tinha tudo pra se tornar o Burgomestre! Havia até conseguido que o líder petista, Dojival, fosse seu vice, vê se pode? Pois é... Não pode!!
Não se sabe como, São Francisco de Assis, com a ajuda dos Grupos de Oração Carismática, e do saudoso Pe. Primitivo Baltazar, conseguiu ressuscitar dez mil eleitores, e a dupla perdeu, mesmo com o apoio dos "Pingüins da "Antártida", amigos do Dudu (o da DIBEC), meu, de minha esposa e tudo! Foi uma "lavada"!
O Dr. Planice, após a "lavada", tornou-se Dono de Posto de Gasolina, mas também não deu prá isso...
O Dojival, voltou a ser Jornalista, desempregado e descasado...
O Planice Filho, deixou de ser Vereador, passou a ser somente marido da Simone, pai do Murilo e da Melissa, filho da Marilene que é um Monte Real, e disso tudo, tem ele motivos de sobra para se orgulhar...
Depois das eleições descobriram-se "Segredos de Estado muito Interessantes", que agora não são mais "segredos", porque o "Estado" não é mais "Estado" e deixou de ser "Interessante"...
Teve um tal de "Sal de Frutas Enos", que acabou ganhando a eleição no grito...
Era "do outro lado", mas foi aceito "deste lado", não se sabe bem o porquê...
Ganhou, e voltou para o "lado de origem", e tá tudo bem, pois em política tudo é lucro, até o apossar-se indevidamente das "sobras" (quando sobra) dos cofres públicos...


Bonitas mesmo, foram as investidas dos "Pingüins"...
Em todos os momentos, lá estavam eles, distribuindo brindes e cheques à vontade! Fizeram a festa Eleitoral ser mais rica e mais confortável...
As más línguas garantem: não foi o Dr. Campinas quem perdeu, foram os puxa-sacos de plantão, que não permitiram o povo de Cuba-de-Então, ganhar...
Teve também, uma tal de Carreata...
Eram cinco quilômetros de veículos...
Isto aconteceu uma semana antes das eleições, propriamente ditas...
Uma semana depois, as urnas avisaram:
- "Bandeirolas não votam!"....
- "Muro não é fiscal de urna!"...
-"Veículo automotivo não possui título eleitoral!"...
A diferença foram dez mil votos, "ressuscitados" (como já disse), um a um, pelos adversários...
Mas a derrota, foi explicada devidamente... É que a tal da Dona Incompetência, tinha cargo de chefia, na equipe do Dr. Campinas...
Puxa-saco era o que não faltava...
Dona Eficiência bateu à porta... mas não teve ninguém desocupado pra atendê-la. Estavam todos diante dos "Pingüins", recebendo "papelotes" devidamente assinados...
Um grupinho de "maiorais", que se diziam especialistas, foram mesmo... Especialistas em perder eleição ganha, pois foram incompetentes para ver que os adversários estavam "aprontando" o esquema da "ressurreição" dos tais dez mil eleitores!

CAPÍTULO III

Certo dia, um tal povo da Socó, pediu audiência ao Burgomestre, para reclamar do tal do Dr. Progresso...
Esperou meia hora, pois o Burgo, estava ocupado com uma ladainha para São Francisco de Assis, que acontecia no Gabinete da Primeira Dama...
O Burgo, atendeu o tal povo, mas a audiência, não foi o bastante para convencer "o homem" que o maior problema da cidade, no momento, não era a falta de noticiário-propaganda... A cidade tinha que virar notícia, sim, mas era preciso antes, tapar seus "buracos"... Principalmente, aquele que já estava aberto há bastante tempo, lá na Socó, vazando gasolina...
Sr. Burgo, que recebia "ordem" vinda "lá de cima", da cúpula de sei lá onde... Não se convenceu.
Êta homem difícil...
O povo então, foi falar com o Japonês Petrolífero...
Por telefone, o Japonês Petrolífero, na época muito famoso... respondeu ao povo da Socó, que segundo sua "gasolinácea opinião", em vez de ficar se preocupando com "buraquinhos sem importância" o povo deveria ajudá-lo e ao Burgo, a conseguirem montar um evento, para melhorar a imagem da cidade lá fora, e com isso conseguirem juntos, os três, que o Dr. Progresso fixasse residência ao pé da Serra do Mar. O evento, tinha que ser um "estouro"! Deveria ser manchete do Jornal Nacional e, se possível, especial do Globo Repórter...
O Burgo, o Dr. Progresso e o Japonês Petrolífero, saíram radiantes então a passear, para ver se encontravam o tal motivo para o tal evento... Cada um sorria por um motivo, mas, os três, soltavam mordazes sorrisos, para quem os visse...
Durante uma semana, vazou "ouro líquido", daquele buraquinho num cano esquecido, às margens duma rodovia de grande porte, ao lado da Socó, Vila residencial de gente humilde...
Amigos do Dr. Progresso, espalharam caixas de fósforos, como brindes, por lá, incentivando o uso do tabaco...
No sábado do carnaval de 1982, lá pelas onze e quarenta, de uma noite de lua, porque o Sol não aparece de noite, um grande estouro acordou a cidade...
BUUUUMMMM!
Quando se contou o estrago, descobriu-se que um grande número de pobres, fôra visitar São Pedro, já levando a carne assada, pro churrasco!!!
E Cuba-de-Então, apareceu no "Jornal Nacional"...
Foi manchete em todos os grandes jornais do país...
Virou matéria especial do "Globo Repórter"...

CAPÍTULO IV

Existe um grande prédio, em minha cidade...
Lá, se encontram dezenove cadeiras estofadas...
Nestas dezenove cadeiras, sentam-se dezenove bundas (porque não se senta com outra coisa), uma vez por semana, para resolver... digamos... problemas...
Só que os "problemas" mesmo, ficam sempre para a próxima reunião...
A sociedade deu um nome, para este prédio: Câmara Municipal!
Toda Cidade tem um prédio com este nome...
Lá, dezenove bundas sentam naquelas cadeiras estofadas, tomam cafezinho de hora em hora e lêm o jornal do dia, procurando seus nomes nas colunas sociais...
Além disso tudo, possui cada um, uma sala, anexa a uma saleta de espera e o escambau... Até fax particular, os caras têm... Eu não sei pra quê, mas que têm, lá isso têm...
É um verdadeiro festival de mordomias!!
O que mais me parece grave, é que tudo isso sai do bolso do tal do povo, que nem jornal lê...
Além das tais "mordomias" tem o salário dos caras...
O que eles faturam por mês, para trabalharem uma vez por semana, não está no gibi!
Nem no do Tio patinhas!!

CAPÍTULO V

Na festa eleitoral teve também um espetáculo, chamado Rodeio, que pra quem não sabe o que é, eu vou explicar:
- É um punhado de caras, que senta no lombo dum punhado de bois que, anteriormente, levaram um baita puxão nos testículos, e ficam bravos pra chuchu. Pois é... Com essa dor nos Testículos, e com um cara, sentado em seu lombo, não tem boi que não se sinta meio agredido, e começa a saltar, até derrubar o dito cara, que geralmente vai pro chão em menos de oito segundos. Se passar de oito segundos, está classificado pra fazer a besteira novamente. O povo, por sua vez, vaia ou aplaude, de acordo com a cara do sujeito, ou do boi...
Pois é...
Fizeram um desses tais Rodeios, lá na minha terra, no último dia oficial da Campanha Eleitoral para candidatos a prefeito e vereadores em 92...
Prá começar, montaram o tal do Rodeio numa rua tão apertada, que não tinha espaço nem pros bois...
Esqueceram a tal da segurança, e até tiros houve no final do espetáculo...
A festa, que tinha tudo pra ser popular, poderia ter terminado no Cemitério Municipal, por atuação brilhante de dona Incompetência, que distribuiu chapéus exatamente iguais para toda a platéia, dificultando assim a identificação dos vândalos adversários da democracia...
Por falar em Cemitério Municipal...
É lá que acontece, todo ano, no Dia de Finados, a reunião dos moradores e visitantes de minha terra natal...
É um tal de...
- "Há quanto tempo!"
- "Como vão as crianças?"
- "Você sabe o que aconteceu com Fulana?"
- "Fulano? Está ali... na campa de Fulana! Coitado... ainda não se acostumou!"

E o mais "interessante" disso tudo, é que essas conversas "amarelas" ocorrem entre as campas...
E continuando com assunto de Cemitério, tem um administrador público profissional (pois quando não é Prefeito, não é ninguém ), que adora reformar e ampliar o Campo Santo!
Toda vez que assume o cargo de Prefeito, resolve reformar e ampliar a morada daqueles que não votam e nem voltam mais...
Dizem, e eu não duvido, que as tais reformas é para esperar a morte do Funcionalismo Público, que sofre de uma doença crônica, batizada pelo Dr. Clermont, de "Síndrome da Deficiência Do Poder Aquisitivo", provocada pela "Escassez de Reajuste Salarial", que acontece todas as vezes que o dito administrador, assume o cargo, por falta de juízo do povo, que o escolhe...'
O funcionalismo público só não morreu de fome (ainda) por pura teimosia de classe, que sempre consegue uma ajudinha da "cesta básica de alimentos", direito concedido por outro, que adora ser Prefeito de Cuba-de-Então, apesar de nunca ter residido lá, o famoso amigo, Ney Serra.

CAPÍTULO VI

Existem e existiram pessoas, em Cuba-de-Então, que ali foram colocadas pela ação divina, para se tornarem parte da História do Município.
Donato Ribeiro foi um destes poucos.
Durante anos e anos, o "Cubatão", jornal semanal de sua propriedade, escreveu a História daquela cidade, sempre pronto a abrir espaço para a gente da terra, como aconteceu comigo, pois foi no "Cubatão", que iniciei meus passos na arte de escrever para jornais, até poder ter o meu próprio veículo de comunicação, fato que só veio a acontecer muitos anos depois das primeiras matérias escritas para Donato Ribeiro e seu semanário, que se tornou história...
A sala de imprensa da Prefeitura Municipal, muito acertadamente, recebe o nome deste verdadeiro jornalista, que fez nome e escola dentro de Cuba-de-Então.
Outro que fez e vem fazendo história, lá, é o "Jornal do Poste", cujo diretor-proprietário, Rolando Roebbeien, é consciente e responsável para com as coisas e os fatos do município, sempre pronto a se colocar frente aos problemas, mesmo que para tanto, tenha como já teve, que responder judicialmente pelos seus escritos, mas ali está, sempre firme em suas opiniões e seus comentários francos, abertos e leais aos princípios primários da cidadania, coisa que pouca gente (infelizmente), defende.
O pioneirismo de Rolando, não pode deixar de ser relatado e comentado, aqui, com seu F1 Tênis Club, seu "Jornal do Poste", seu restaurante naturalmente "macrobiótico", a fundação do PV (Partido Verde) e seu espírito empreendedor, escreveu em vida, seu nome dentro da História do município, embora nada disso fosse necessário ser feito, visto que ele já faz parte da História de Cuba-de-Então por direito de família, visto que é descendente de Dona Miquelina, uma das primeiras moradoras da cidade, benfeitora, que trouxe, pagando das próprias economias, a instalação da luz elétrica, para a então Capela de Nossa Senhora da Lapa.
Rolando, com seu "Jornal do Poste", foi um dos pioneiros, (se não foi o único), a enfrentar os problemas do município e colocá-los em debate, através do seu veículo, enfrentando por isso, o "todo-poderoso" Prefeito Municipal da época, que pensava como ditador que é, que a cidade era propriedade sua, não da comunidade.
Pois bem.. Rolando o enfrentou de peito aberto e quase sem ajuda de ninguém, acabou recebendo vários processos por calúnia e difamação, mas a todos respondeu e provou inocência, e ainda hoje Rolando está aí na terrinha, andando por suas ruas e avenidas, esbanjando senso ecológico, com a cabeça erguida e a consciência limpa, na certeza de que fez a sua parte, para o progresso cultural, político e social de sua terra natal, onde também nasceu Afonso Schmidt, eu, e um punhado de gente, segundo consta no Cartório Civil, que agora fica na Rua São Paulo, pouco depois da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Lapa, padroeira de nosso berço, e defensora, (junto ao criador) de nossa democracia, que custou muito a ser conquistada, mas lá está, em plena atividade, fazendo o Rolando e todos nós, termos no peito o sentir maior, pois somos filhos, como nunca, do Pé da Serra, mesmo que lá estejamos às vezes "sem bastão e sem lanterna"...

CAPÍTULO VII

Há, entre os meus mais antigos conterrâneos, aqueles que sustentam a tese, que minha terra, de há muito, perdeu a candura do antigamente, quando o fio da barba, valia o empenho da palavra do homem de bem...
Mas eu não penso assim...
Escutei muitas histórias, contadas pelas bocas daqueles que as viveram...
Essas histórias, me ficaram como um passado, que hoje posso contar pros meus filhos...
São verdadeiros "causos", que merecem nosso registro, não o amontoado de datas e fatos, que apesar de muito importantes, para o conhecimento didático, não transmitem o sentimento de bairrismo, que eu particularmente, venero.
Registrar a História oficial de um município, não é trabalho pra mim... Não sou historiador. Sou apenas um colecionador de "causos", onde as datas pouco aparecem e os heróis não têm nomes pomposos...
Ao encarar o desafio de fazer esse trabalho, tive em mente, contar os "causos" (como dizem os mineiros aqui da Zona da Mata), usando a memória...
Procurei (de propósito), fazer uma seleção dos melhores "causos", de Cuba-de-Então, e usei de certa irreverência costumeira... Meus amigos dizem, que "sou mestre" nessa tal, que eles chamam de arte. Mas eu não me preocupei em ser artista.. Só queria ser eu mesmo. Cubatense... Nesse mundo moderno, agitado e cheio de cobranças, às vezes encontramos o equilíbrio nos ensinamentos adquiridos na infância, na meninice e estes pra mim, são os mais caros e os melhores...
Lembro-me que adquiri a maioria deles, sentado com a bunda (pois não se senta com outra coisa) no balcão do velho botequim do saudoso Valdemar Eleno, seguro pelas grandes e fortes mãos do Seu Campinas, meu avô materno, escutando os fazedores de nossa História, contarem os "causos" acontecidos...
Ali, escutei o relato da luta pela autonomia política do município, pela boca do Dr. Armando Cunha...
Ali, conheci a história de Abel Tenório de Oliveira e seu modo "particular" de resolver problemas...
Os antigos contavam histórias, e eu, menino de pouca idade, escutava, assistia ... e gravava na memória...

CAPITULO VIII

Pra mim, cômodo e fácil, seria continuar esse trabalho baseado na mesma irreverência do início. Não me comprometeria, trocaria nomes, faria as montagens com sobrenomes, e construiria um livro engraçado. Mas não são somente um amontoado de "causos" engraçados , a História da minha terra...
Teve muita lágrima, suor e sangue, no construir da cidade de hoje, que o progresso veio dominar...
Muitos dedicaram parte de suas vidas, ou vidas inteiras, para que o antigo Posto de Troca dos Tropeiros, se transformasse na cidade, a quem o "vento noroeste" trouxe de presente dos céus, a esperança de um amanhã cada vez mais próspero...
A velha Vila de cortadores de folhas do mangue, se tornou uma cidade, onde o amanhã se faz presente, em cada novo ponto comercial aberto, em cada nova fábrica instalada...
Se outro objetivo não tiver este trabalho, pelo menos fica como um fraterno abraço aos amigos, conhecidos, que se tornaram parte dele e personagens da História, que é da nossa terra, e nossa também.
É também, minha forma de agradecer aos meus antepassados. Sem eles, a minha história poderia ser outra, ou a História da minha cidade, poderia não ser como é...
Na terra de meu nascer, nasceu também Afonso Schmidt, que a batizou em 1949, no primeiro romance futurista da literatura brasileira, de "Zanzalá"...
Eu, na minha insignificância, tomo a liberdade de rebatizá-la como Cuba-de-Então.
É bem provável que, um dia, a tal da Procuradoria Municipal, encontre entre mais alguma coisa, uma forma de modernizar a cidade e ela fique mais parecida com a comunidade que seu ilustre Schmidt sonhou...
Se bem que, podem microfilmar o papel velho, espanar a poeira e fazer todo o resto, mas nunca se livrarão dos puxa-sacos, que infestam o funcionalismo público cubatense e daqueles que têm boa memória...
Senão vejamos: tenho certeza de que há quem lembre da "Linha Verde de Passageiros"...
Da antiga "Linha Azul"...
Da linha de Trole da City...
Da Costa Muniz...
Da velha ponte do Rio Casqueiro, feita com tábuas podres...
Da Reserva Florestal da Fábrica de Anilinas, que se localizava na área onde, hoje está instalado o Parque Anilinas e o Jardim São Francisco...
Do Maracangalha...
Das antigas "Jardineiras" do Seu Carvalho...
Do pai do Djalma, primeiro motorista de Coletivo, da cidade...
Do Rinque de patinação, dos anos trinta...
Da "Sociedade de Ajuda Mútua"...
Da inauguração do primeiro "Bar Sport", ainda na Nove de Abril...
Quem, com mais de trinta anos, não traz na memória o "Cineminha da Química"?
Tem que ter mais de quarenta, para lembrar do "Cine Lux", onde se assistia filme mudo...
Do "Fordeco" do Seu Carvalho, onde muitos nasceram, no caminho entre Cuba-de-Então e Santos, nas "emergências da madrugada"......
Quem não traz os olhos rasos d'água, ao recordar das Festanças para São Lázaro, no tempo da Capelinha ao pé da serra?
A memória não morre, e é nessa memória que encontro a terra que nasci, onde também nasceu o Alex Farah; o Jaime Farah; a Janete, irmã dos dois; o Djalma, dono da Delta...
Todos, por certo, se lembram do seu "Zé Pipoqueiro", que fazia ponto no Colégio Júlio Conceição, onde estudou a Doralice Lopes, a Ottila Campinas, a Elza Nogueira, que depois virou Campinas também, e mãe de uma penca de filhos, todos nascidos no pé da serra, onde também vieram ao mundo a Marilene Monte Real; o Nicolino Neto; o João Eleno, meu irmão de leite...
O Cineminha da Química lotava todas as segundas- feiras, onde o mocinho nunca perdia o chapéu e as balas, de seus revólveres, nunca acabavam...
Na nossa terra, eram famosos os Bailes do Esporte Clube, onde a família se reunia...
Quem não sente saudades de rodar pião e jogar fubeca, no chão batido da Rua Santos?
Difícil esquecer as brincadeiras de bandido e mocinho, usando como armas, raízes de lírios silvestres, arrancados dos terrenos baldios...

CAPÍTULO IX

Em minha cidade natal, donos de representação bancária entraram em falência (ou quase) e seus corretores ficaram ricos; o Manga, pintava as melhores casas da cidade; um advogado comunista, famoso hoje em dia, pediu terno emprestado para a formatura, e nunca mais devolveu; o Páscoa era o sacristão da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Lapa, padroeira da cidade; o Agenor Macedo, funcionário da Câmara Municipal, bateu todos os records de vestibulares, prestando exame doze vezes, para entrar na faculdade de Direito, e conseguir o sonhado diploma, que não lhe valeu para nada, a não ser uma pequena promoção na Câmara de vereadores, onde é funcionário de carreira, hoje já aposentado...
Na cidade em que nasci, o Neco Campinas, hoje já falecido, realizou entre muitas, a famosa "façanha" de conseguir tomar 29 gols em uma única partida do Esporte Clube, jogando só no segundo tempo...
As unhas dos pés do Gigino Aldo Trombino, então Presidente da Câmara dos Vereadores, eram cortadas na mesa da presidência, na cidade em que vim ao mundo, nos velhos temos, quando ainda não existia lá nem a moderna COSIPA (Companhia Siderúrgica Paulista), a bem equipada RHODIA, a campeã da campanhas em favor da ecologia, a nossa famosa ESTIRENO, a poderosa REFINARIA PRESIDENTE BERNARDES, a bem instalada ADUBOS TREVO, a importante CURSAN, que teve como primeiro Presidente o Dr. Armando Campinas, a DIBEC do Dudu, a TERRACOM do Nicolino, a sofisticada e competente GRÁFICA SÃO MARCOS, o Paço Municipal e inumeráveis outras micro, pequenas, médias e grandes fábricas e empresas importantíssimas para a melhoria das condições de vida da nossa comunidade, que hoje já fazem parte da cidade e da vida de seu povo, que não tinha, mas graças a Deus, hoje já tem o estimadíssimo e inesquecível amigo Rubens Marino, para defendê-lo contra qualquer "eventualidade", e a competentíssima Prof. Marilene Monte Real, para zelar pela qualidade da sua educação e o futuro de suas crianças...

Vereador, lá na minha terra, morreu de tiro e prefeito, morreu a bala, em frente ao Esporte Clube, em dia de festa. Infelizmente...
Tudo isso também está na lembrança de outros, como o Renato Cunha, que é meu grande amigo, e hoje vive a vida com o suor do rosto, criando com honestidade as filhas, lá em nossa terra natal...
O João Eleno, que foi meu irmão de leite infelizmente falecido a pouco tempo...
A Leila Nascimento, que hoje está morando em outra cidade, mas já viveu lá pelas bandas da Serra do Mar, berço também de Afonso Schmidt...
O pai da Leila, Valdir Nascimento, que foi o Vice do Abel Tenório, e assumiu, quando o valente administrador levou balas pelo corpo todo, também nasceu em minha terra...

CA´PÍTULO X

Nos antigamente, a Prefeitura Municipal funcionava na Av. Nove de Abril, no prédio que hoje abriga a Biblioteca Municipal.
Era o tempo do saudoso Wilson Guimarães, o mais pontual funcionário público do município, aquele, que pegava os "inocentes" bichanos, e levava de presente para o almoço dos leões de todos os Circos que fossem apresentar seus espetáculos artísticos em Cuba-de-Então (o que garantia seu ingresso na sessão noturna) e que por causa disso, foi apelidado pelos colegas, de "Gato". Seus contemporâneos, como eu, ainda devem se lembrar do "chabú" que ele armava, todas as vezes que alguém dizia um simples "miau" perto dele...

Foi nessa época que Benedito Rosalino de Carvalho começou a formar uma das melhores e mais bem montadas equipes de serviço da Prefeitura Municipal, com Romualdo de Moraes, Estevão da Silva Azevedo, Carlos da Silva Valentim, Antônio Carlos Jorge, Nilza Bolito, Mário Correia Leite, José Couto e Vera Lúcia Esteves.
Nascia, assim, a Divisão de Cadastro da Secretaria de Finanças, ligada ao Departamento da Receita, cujo Diretor era José Rodrigues Lopes.
Hoje, embora a maioria dos primeiro titulares esteja aposentada, o Cadastro da Receita é uma das mais bem montadas equipes de serviço da Prefeitura, guardando em seus arquivos particulares, quase tudo que se pode arquivar sobre o município. É o mais completo cadastro municipal, graças ao esforço pessoal dos pioneiros, que deixam para as gerações futuras o que souberam guardar e preservar, de conhecimento sobre o município de Cubatão!

Foi mais ou menos no início de tudo isso, que apareceu uma funcionária, para trabalhar com Rosalino e sua turma.
A funcionária era asseada "até demais", visto que todos os dias chegava ao local de trabalho dez minutos mais cedo, trazendo muda de roupa nova.
Tomava banho no chuveiro do prédio da Prefeitura, e tomava "outro" banho, com perfume.
Somente depois disto é que se apresentava para o serviço. Não durou muito, pois não estava qualificada, dentro das exigências de que a Divisão necessitava, mas marcou seu nome, que infelizmente nunca consegui descobrir.

CAPÍTULO XI

Foi mais ou menos nessa época também, que um polêmico projeto foi apresentado na Câmara Municipal.
Um munícipe, preocupado com o custo de vida, fez requerimento à Câmara, pedindo providências.
A Assessoria Jurídica do Legislativo respondeu que nada podia ser feito, visto que o caus econômico se devia à "Lei da Oferta e da Procura", e a Câmara Municipal se encontrava de mãos atadas, para resolver o caso.
O contribuinte não se conformou, e levando o parecer dos nobres juristas, procurou um vereador, seu amigo de longa data...
A Câmara Municipal, naquela época, funcionava no prédio da Rua São Paulo, em cima da Casa Cacique, que lá ainda está, e do Foto Benassi, que se encontra ainda no mesmo lugar.
O assunto como sempre, vazou, e toda a população ficou sabendo que um dos vereadores estaria fazendo manifestação contra o custo de vida, na próxima terça feira, dia de sessão do legislativo.
Quando a Câmara se reuniu, o plenário lotou, estando o munícipe reclamante na primeira fila, com terno novo, gravata multi-colorida e sapatos impecavelmente engraxados...
Em dado momento, no meio da sessão da Câmara, o presidente da mesa deu a palavra ao nobre vereador, que soltou a bomba, que o plenário aguardava com ansiedade:
- "Por solicitação de munícipe cansado deste caus de nossa economia, e do caus que este vem causando no comércio local, solicito, que os nobres colegas, se unam a mim, e revoguemos desde já, a famigerada "LEI DA OFERTA E DA PROCURA!!

CAPÍTULO XII

Numa das reuniões da Câmara, ao final do ano de 1992, um dos nobres dezenove vereadores, batizado como, o Belo. discursava...
Em dado momento, um ancião resolveu se manifestar contra o que o nobre Edil falava...
O dito vereador trajava terno gelo, gravata com cores berrantes, sapatos negros, muito bem lustrados, enfim: estava impecavelmente bem vestido, como sempre se apresentava...
Edil com muitos anos de Câmara Municipal, o nobre vereador não se conteve, e saindo do espaço destinado aos vereadores, invadiu a galeria e, num gesto insano, esbofeteou o ancião, que contra sua fala se manifestara...
O fato, que deveria ficar como "simples" acontecimento interno daquela Casa de Leis, por conseqüência da tal da Lei da Imunidade Parlamentar (que por sinal, também deveria ser revogada), tornou-se um caso na Polícia... Mas... não deu em nada.
Isso só pode acontecer em cidade que elege, pra representante popular por exemplo, um "Sal de Frutas", outro "larápio de penosas alheias", outro "réu primário" e deixam fora da representação do poder socialistas convictos, incorruptíveis e defensores da vida, da cultura e da cidadania...
Por que será que o tal do "Edil Esbofeteador", não entra na Vila São José, nem com escolta da Polícia Militar?
Minha cidade, queiram ou não os inocentes, gira em torno da Prefeitura Municipal... É uma população de mais de três mil famílias, com regras próprias, vida própria e piadas próprias...


Como estas, por exemplo:

*De certa feita, um fiscal de obras públicas lavrou um auto de infração: um caminhão desgovernado, havia tombado uma árvore em plena via pública. Com a documentação toda legalmente preenchida, a multa foi processada, e remetida ao proprietário do veículo, para os devidos pagamentos aos cofres públicos...
Uma semana depois, uma idosa senhora comparecia ao balcão do Departamento de Obras Públicas, trazendo a multa nas mãos... Foi atendida por um funcionário e logo encaminhada à Chefia...
O caso foi esclarecido rapidamente, e a referida multa anulada...
O dono do caminhão em questão, já há três anos, havia falecido, conforme constava na Certidão de Óbito...
O caminhão, tempos depois, fôra vendido pela velha senhora, como sucata, conforme comprovava a nota fiscal de venda, constando inclusive a chapa do veiculo...
O fiscal, que lavrou o Auto de Inflação, até hoje é solicitado a comparecer ao Cemitério Municipal, pois lá, na campa número tal, um senhor o está esperando, para pagar certa multa, a ele imposta depois de falecido...

*Em certa época, a Prefeitura começou a limpar um grande terreno, com o objetivo de ali, como acabou acontecendo, implantar um novo núcleo habitacional...
Para evitar que invasões fossem feitas ao terreno, o Departamento de Obras determinou que um de seus fiscais para lá se dirigisse, e fizesse o que pudesse, para evitar tais invasões...
Se autodenominando "administrador", para lá se dirigiu o funcionário, com mais de dez anos de casa...
Uma semana depois, estourava a notícia!
O funcionário, juntando algumas folhas de zinco e alguns tapumes, construiu na área, um barraco, e lá colocou sua companheira...
Tornou-se o primeiro invasor do terreno, e por pouco não perde o emprego de dez anos...
É... na Prefeitura da minha cidade tem de tudo... Teve até bolão da loto que sumiu... E há que jure que essa história, teve um "Bom Fim"...

CAPÍTULO XIII

Piadas, envolvendo autoridades municipais e altos funcionários, são coisas corriqueiras em minha cidade natal, principalmente entre a população da Prefeitura Municipal, um mundo à parte, como já lhes contei...

De certa feita, um carro negro, com chapa oficial, parou em frente ao sinaleiro, que se encontra na Nove de Abril, bem em frente à escadaria da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Lapa, padroeira do Município...
O vidro de traz foi abaixado, e um alto funcionário da Câmara , grita...
_ "Que padaria, heim, "fulana"?"
A moça, que estava no último degrau da escadaria da Igreja, tentando colocar as meias no lugar, sem se preocupar com a pergunta, gritou de volta:
_ "Na Lisboa, pois o preço é bem mais em conta!"
Ela fôra encarregada de comprar o pão, para o grande churrasco de final de ano, tradição da Câmara Municipal de minha terra natal, onde nem o Prefeito escapa das piadas...

Por isso... lá vai!

* "Altas horas da noite... o Sr. Prefeito dorme...
Pijama de bolinhas... Touca contra o frio...
A Primeira dama acorda... Seu corpo queima...
Ela tenta acordar o marido...
_"Amor... Vamos fazer uma "sacanagem"?...
Ele, meio dormindo, meio acordado, responde:
_"Chama o vice que ele assina... É melhor eu não me comprometer..."

*No gabinete, um humilde homem do povo cruza com o prefeito e, com a calma dos humildes, lhe pede uma audiência...
O prefeito lhe manda para a sala da Primeira Dama, para meia hora de exorcismo...
Depois o atenderá, antes, não...

Em minha terra, existe uma réplica do Cristo Redentor, só que ela está com o rosto voltado para Santos... Dizem que é porque Ele tem vergonha da incompetência que se instalou em Cuba-de-Então... mas não é verdade... O caro amigo leitor, sabe, que o povo adora fazer piadinhas de mau-gosto... O que aconteceu, foi que o pessoal que colocou Ele (o Cristo) no alto do morro, não reparou bem a direção em que deveria ficar. Só isso...

Em minha cidade natal, existe uma autarquia que funciona: é a fábrica de placas da Prefeitura! Como tem placa pública na minha terra, meu!!!

CAPITULO XIV

Por muitos anos, dei "murro em ponta de faca", tentando encontrar quem escrevesse sobre Cuba-de-Então...
Infelizmente não encontrei ajuda e nem atenção...
Mandei a ajuda, para os quintos e a atenção, pentear macacos!!
Peguei caneta e papel, fiz algumas anotações, sentei-me frente ao computador, e realizei o velho ditado: quem quer, faz!
Pode não ser uma "obra-prima", esse trabalho, mas creio, deixando a "grande" modéstia que me assola, de lado, que ele poderá ser considerado... assim um.... "tio-avô"!
No Colégio Afonso Schimidt, perguntou-se quem era o ilustre brasileiro, que dava nome ao colégio...
Teve aluno que respondeu que ele fôra o português, que descobrira a cidade!
É duro ter que admitir, mas as administrações municipais da minha cidade, até hoje, não colocaram como prioridade na educação, a cultura local...
Não existe nem uma biografia "confiável" sobre Afonso Schmidt, e a que existe, autorizada pela família, ainda não recebeu apoio da prefeitura, nem das empresas pra publicação...
A administração pública classifica "Menino Felipe" como autobiografia do imortal escritor e não adianta a viúva do escritor descordar do fato, provando que o próprio, antes de partir, declarou que "menino Felipe era o menino que ele gostaria de ser, não o que ele foi"... O que ele comprova com todas as letras em sua novela "Os Boêmios".
Mesmo sem contar com o querer de muitos, isto acontece em minha terra, e com este ato, o poder público dá ao jovem, principalmente o estudante, que deveria conhecer muito mais sobre o escritor, uma idéia errada sobre a verdade da vida de Afonso Schmidt.
A falta de interesse histórico é tão grande, que poucos sabem por exemplo, porque o nome de Joaquim Miguel Couto, figura em uma das avenidas do município!
Não há sequer, um estudo completo, sobre a História do município... e com isso, corre-se o risco de perdê-la...

CAPÍTULO XV

Cubatão, para quem não sabe, começou com uma doação de terras, feita por Martin Afonso de Souza a um tal de Ruy Pinto. Isso em 1533...!
Em 1550, a "Companhia de Jesus" recebia as terras em doação, e nascia a "Fazenda Geral de Cubatão"!
As terras voltariam ao domínio da Coroa em 1559, com a extinção da "Companhia de Jesus", e foram colocadas sob a administração de Antônio José de Carvalho, tenente das Cortes.
Em 1819, começa a colonização, com a chegada das cinco famílias: a de Manoel A. Machado; Manoel do Conde; Manoel Spinola Bittencourt; Manoel Raposo e Manoel Correia, que entrariam para a história como "os cinco Manoéis"!
Em 1833, a Regência do Império, em nome de D. Pedro II, então menor, eleva a Vila de Cubatão à categoria de cidade...
Em 1841, uma Lei Provincial, assinada por Tobias de Aguiar, então Presidente do Estado de São Paulo, anexa Cubatão a Santos e a então Cidade do Império, passa a ser Distrito da Cidade de Santos.
Em 1930, o já extinto jornal "Voz de Cubatão", lança a campanha pela autonomia municipal e é formada a Comissão Emancipadora , com Dr. Armando Cunha; Sr. José Rodrigues Lopes; Sr. Lindoro Couto; Sr. Antônio Simões de Almeida; Sr. Celso Grandis do Amaral; Sr. João Olcese , Sr. João Sendra Pontt e o Sr. Domingos Rodrigues Ferreira.
Em 1949 vem a autonomia, e o Dr. Armando Cunha é eleito o primeiro Prefeito Municipal!
Em 1969, com o poder ditatorial instalado no país, desde 1964, Cubatão passa a ser considerado por lei, "Área de Segurança Nacional", e perde a sua autonomia, mantendo a Câmara de Vereadores, mas perdendo o direito de eleger seus Prefeitos, que passam a ser nomeados pelos governadores do Estado, que formavam uma lista de três nomes "prefeitáveis" e o Poder Central em Brasília, escolhia um!
Nasce então, a Resistência Democrática, liderada pelo MDB (Movimento Democrático Brasileiro) o maior partido político do município na época, que contava com o veterano Sr. Galindo, o saudoso Gigino Aldo Trombino, o Dr. Armando Campinas Reis, Dr. Jaime Ruivo, o Diretor da Receita Municipal, Sr. José Rodrigues Lopes e tantos outros nomes ilustres, que a memória não me permite lembrar no momento...
Em 1986, acontece novamente eleições gerais, e Cubatão volta à normalidade da democracia plena!

CAPÍTULO XVI

Mas vamos parar de escrever datas e mais datas, pois não é esse o nosso objetivo. Deixemos as datas para quem entende delas, como a Professora Inez Galdino Peralta e seu excelente "Caminho do Mar".
Também me falta muito, para competir no folclore com Luzia Maltez da Guarda, e seu ótimo "Antologia do Folclore Cubatense", dois dos maiores exemplos de cultura, dentro de Cubatão de hoje, e que podem muito bem representar nossa cidade, no que diz respeito às suas tradições.
São duas cubatenses de fibra e raça, que se propuseram a seguir os passos do saudoso Antônio Simões de Almeida, que conhecia Cubatão e sua história como ninguém!
Parte de seu acervo, compõe o Arquivo Histórico Municipal, ganhando mofo e teias de aranha, esperando a visita do Cubatense, que queira saber mais sobre a nossa cidade, mas que quase não aparece, por não receber incentivo para isso...
Na época do falecimento de Antônio Simões de Almeida, o interesse por seu acervo foi pequeno, tanto que parte dele foi queimado pela viúva, em sinal de protesto.
Quem possui um excelente acervo de documentos sobre terras e proprietários do município, é a Divisão de Cadastro Imobiliário, órgão ligado à Secretaria de Finanças, da Prefeitura Municipal.
Parte do que lá está, são anotações de Benedito Rosalino de Carvalho e Romualdo de Moraes, este último, profundo conhecedor dos "causos" e das verdades de Cubatão e sua história.
Infelizmente seus dados estão ainda em fichário manual, pois nunca houve interesse do Centro de Processamento de Dados da Prefeitura Municipal, em abrir um campo de coleta de dados, para o Cadastro, para se poder preservar o que está nas fichas, em ponto de se perder, com o tempo.
Penso que os conhecimentos de Romualdo de Moraes deveriam ser preservados para a posteridade, assim como os de Benedito Rosalino de Carvalho, José Couto, Estevão da Silva Azevedo e muito outros, que fizeram, com o correr dos anos, a Divisão de Cadastro, da Secretaria de Finanças, se tornar o coração de dados sobre o município, e hoje podem já estar se perdendo, por falta de interesse das administrações passadas, que não viram neste saber, algo de importante e de interesse para o futuro do município, como nós vemos, pelo bem do Serviço Público, e pelo bem do próprio Município.
Quase sempre, os administradores municipais se preocupam com outras coisas, e se esquecem de preservar o já feito. Se o CPD da Prefeitura, hoje não possui um banco para coleta da dados, é porque nunca ninguém se interessou em mandar implantá-lo, embora a Prefeitura possua o maior e mais bem equipado Centro de Processamento de Dados do Município, mas ele é usado para os funcionários preencherem espaços vazios, não para recolher informações extra-formulários, que na maioria das vezes, têm maior importância do que o preenchimento de um simples papel timbrado... E se as informações se perderem em fichários pessoais de papel?
Quase tudo, na Prefeitura de Cubatão, ainda é feito como se fazia em 1949, no tempo do primeiro Prefeito, o Dr. Armando Cunha! Informatizou-se a Prefeitura, mas se "esqueceu" de informatizar o serviço público...

CAPÍTULO XVII

Cuba-de-Então, é uma cidade privilegiada. Ainda existem "arquivos ambulantes" de sua história!
Vivos mortos, lá em Cuba-de-Então se encontra: Pedrinho Barbeiro; Jayme (o Volta Seca) Dr. Mário Ruivo; Armando Cunha Filho, que é Doutor em Direito Civil; Neide Brahma ; Avelino Ruivo; Rosa e Nega Pieruzzi, que são irmãs, filhas adotadas de Cubatão ; José Jaime Ruivo, que também é Doutor, porém no Criminal, e foi Presidente da Câmara dos Vereadores, Vice-Prefeito... mas, que nunca deixará de ser o "Jaiminho"; Micjalho, "o Belo", Armando Peralta o do Supermercado, que já é "Hiper"; Mário Canelas, o homem das "tintas"... Dojival Vieira dos Santos e Suzete Miranda, a dupla de idealistas convictos, que vinda do nordeste brasileiro, devolveram ao povo cubatense, a força para a luta contra a ditadura... e muitos outros, que escreveram e escrevem a história do município, a cada dia que passa.
É verdade, que muitos dos antigos já saíram da cidade, mas ainda permanecem ali suas raízes. Os Da Guarda estão todos no município, e a maioria dos Peralta também... Os Lopes, descendentes de Seu Abílio... O Dr. Mário Ruivo, que sempre irei chamar de "Tio Mário", saiu do município, mas lá ainda permanece seu laboratório de Análises Clínicas, um dos melhores de Cubatão...
O Pedrinho, embora hoje more em Santos, tem barbearia na Nove de Abril há mais de trinta anos. Dizem que, quando Maomé visitou Cubatão, foi Pedrinho, quem aparou as barbas do milenar profeta... Quantas histórias, sua neutralidade registrou e registra, diariamente!
Alguns funcionários públicos, são conhecidos quase que somente por seus apelidos...
Tem o Foguinho, que já foi até Secretário de Finanças...
Tem o Toninho bicheiro...
a Neide Brahma, que conheço desde menino, e não sei o verdadeiro nome...
O Dr. Poliesportivo Filho, que é procurador, e nunca encontrou coisa alguma...
Tem a Lourdes do Protocolo, tem o Zezinho...
Tem a Luíza do Serviço Médico...
Tem o Marquinhos de Obras, que já foi até Vice-Prefeito...
Tem o Lourimar da Caixa...
Tem o Vicente da Tesouraria...
Tem o Batista da Portaria...
Tem o Amaury da Sapataria...
Tem o Maguila da Ambulâmcia...
Tem a Zilda do Boi...
Tem a Angelina do Fofão...
Tem a Luiza do Centro Cirúrgico...
Tem a Ricarda do Hospital...
Tem a Benzinho da Santa Casa...
Tem o Luiz do DRH...
Tem a Arlete da Cantina...
Tem o Barrada do Cadastro...
Tem o Lamartine do Trabalho...
Tem o Max dos Guardinhas...
Tem o Seu Mário do CAMP...
Tem a Ana do Sindicato...
Tem a Elza Eletricista...
Tem muitos amigos ali...
Tudi buena genti!!!
Qualquer telefonista reconhece os apelidos e localiza a todos ... Mas pelo nome real (o de batismo), é quase impossível...
O número de Patrulheiros Mirins da Prefeitura Municipal é inacreditável!
São eles que fazem o trabalho que antes usava os chamados "contínuos"!
Quem controla essa verdadeira massa de "micros funcionários" é o Maximiliano Alves de Brito, um gênio da Matemática e da Filosofia, que a Prefeitura não soube aproveitar! (Ainda)
Tem funcionária, que usa os serviços de patrulheiro até pra mandar comprar absorvente no Pão de Açúcar!
O contracheque da Prefeitura, tem apelido de Atestado de Pobreza!
Contribuinte, na Prefeitura, é o povo! Pode até "ter razão", mas poucas vezes "estará" com a razão, quando encostar num dos balcões de atendimento!
As portas da Prefeitura, devem estar sempre abertas, pois o prédio pertence ao povo! O Administrador coloca alguns vigilantes, só pra intimidar um pouco, aos arruaceiros, mas os "meninos" são inofensivos!
A defesa, é civil... Mas salva primeiro a autoridade! A Prefeitura Municipal tem sua máquina própria de produção de doidos, que recebia o pomposo nome de Protocolo Geral, e hoje é designada por Gerência de Comunicação... onde trabalhou o saudoso "marrom provocante sabor bombom" o Tião, da Cota 200, e ainda deve trabalhar, o Osmar e outros caras bons de conversa e bons de serviço, pois quem não é bom, não dura na "fábrica de produzir doidos"...
Tem lá também, o tranquilo artista, "fazedor" de poesias para música, o Zezinho, eterno apaixonado pela "Flor do Oriente" do Cadastro da Sefin e um dos proprietários do aconchegante "PIER CLUB" localizado à beira mar...
Político, em minha terra natal, é o sujeito que não sabe fazer nada, mas critica o que os outros fizeram!
Lá, cabo eleitoral, é o sujeito contratado pra ser "puxa-saco" com exclusividade, e assim por diante...

CAPÍTULO XVIII

Na Prefeitura Municipal de Cubatão, em meu entender, faltam algumas placas explicativas...:

No gabinete do Vice:
"Deus atende no andar de cima. Aqui, é a fila pra falar com Jesus Cristo..."

No Setor Médico de Pessoal:
"Aceitamos qualquer atestado... mas, não temos ordem para expedi-los... Lugar de doente, é no Hospital!"

Na portaria da Câmara:
"Senhores munícipes: Favor não incomodar!"
ou:
"Silêncio! Autoridade tomando café!"

No banheiro feminino:
"Caríssimas funcionárias: Favor fazerem a maquiagem em casa!"

No banheiro masculino:
"A administração informa: Não nos responsabilizaremos por "revistinhas" esquecidas...!"

Na Procuradoria:
"Calma! Quem procura acha!"


Na Tesouraria:
"Estamos sem verba... Volte dia 32!"
Ass: Vicente.

No estacionamento da Prefeitura:
"Cuidado! Sou velho, feio, ultrapassado, tenho goteiras...
mas sou de estimação!
Ass : Bugry do Lamartine..."

No Gabinete do Prefeito:
"Deus está em conferência com os Arcanjos.
Dirija-se ao Gabinete de Jesus Cristo, por gentileza!"

CAPITULO XIX

Depois de pensar como um doido, perder noites de sono, encher a cara de café, ainda não encontrei o porquê, do verdadeiro motivo pelo qual estou escrevendo este meu relato:
Talvez eu tenha começado esse trabalho, pensando que meu povo paga caro, pelo alimento comprado no Peralta; Come pastel frio, comprado no pasteleiro ao lado do Banco do Brasil; É internado sem conforto, no Hospital da Comunidade e ainda enfrenta as incríveis liquidações das Casas Bahia, onde a "dedicação é total a você "!...
Talvez eu tenha começado este trabalho, em homenagem aos inúmeros filhos da terra, que já viraram placas... no cemitério municipal...
Ou foi fruto de saudade mesmo...
Penso que, ser Cubatense, é antes de tudo, ser um forte!
Quando quer ir ao cinema, tem que enfrentar ônibus lotado até Santos... Depois, descobre que o filme que viu está disponível em vídeo, bem em frente à sua casa, pela metade do preço do Cinema...
Quando quer roupa nova, o Cubatense vai até às boutiques do Gonzaga, e paga à vista, ficando duro o resto do mês... Depois descobre que na loja do turco, na Nove de Abril ou nas barraquinhas do Boulevar (camelódromo), a mesma roupa custava a metade do preço, e ainda podia pagar em três vezes, sem acréscimo...
O Cubatense é um forte!
Minha terra natal, como toda cidade, é dividida em bairros, cada qual com seus personagens e sua história...
O Jardim Casqueiro ficou famoso, nos anos cinqüenta, quando se descobriu que lá moravam mais mosquitos do que gente...
A Vila Esperança é um aglomerado de casas , com um bocado de gente, que sonha com a "esperança" de um dia se tornar bairro...
Vila São José é o território da Zilda, mulher de fibra, que pega até boi à unha, tem medo de baratas, mas merecidamente, também tem muito voto na urna!
Lá também já foi chamado de Vila Socó, mas mudou de nome, depois que passou o cheiro do churrasco! Lá, o vereador "almofadinha" não entra nem com escolta, mas ainda não posso dizer o porquê!
A Vila Nova é o território do Beto do Pó, o "bom menino". Lá moram o ex, que sempre volta a ser Prefeito, seu ex-Vice (que espero sinceramente, volte a sê-lo) e uma boa penca da elite Cubatense...
A Fabril é o bairro da fábrica de papel. É um bairro diferente, pois é particular...
O Pito Aceso fica na cabeceira da ponte do Rio Cubatão. Foi ali, que o pai de Afonso Schmidt teve uma Mercearia, no início do século...
O Vale Verde é um dos bairros mais novos da cidade. Foi construído para ser um bairro de elite, com casas de alto luxo, mas virou bairro comum, por força da população. Fica na divisa com o município de São Vicente...
A Vila dos Pescadores, ou Siri, (como queiram), fica sobre o mangue. É parte aterrada, mais ainda preserva palafitas. Uma parte de seu terreno, pertence à Rede Ferroviária Federal, e a outra, à Marinha do Brasil. Começou como invasão, e acabou virando uma pequena Vila.
A Vila Couto e a Vila Paulista, são dois bairros pequenos, ligados um ao outro. São os mais antigos do município...
A Vila Santa Teresa fica no centro. Começa na Nove de Abril e segue, pela Rua São Paulo... Pra quem quer saber, foi neste bairro que nasci e sobrevivi, até doze anos, quando mudei pra Santos...
A mais longa, e mais antiga das avenidas do município, é a Nove do Abril! Nela fica o coração comercial e financeiro da cidade...
Cuba-de-Então fica situado às margens da Via Anchieta, no Litoral Paulista. Também passa por lá, a Rodovia dos Imigrantes. Pela Rodovia Pedro Taques, Cuba-de-Então liga-se a Guarujá e por ele, ao Litoral Norte do Estado.
Hoje em dia, é considerada uma cidade de médio porte!

CAPÍTULO XX

De trinta anos pra cá, Cuba-de-Então começou a crescer e dizem alguns, assustadoramente!
Antigamente, Cubatense doente ia pra Santos...
Hoje, o Cubatense já pode morrer ou se salvar, tranqüilamente no Hospital da Comunidade...
Pode contrair AIDS, e ser tão bem tratado, a ponto de conseguir viver uma vida normal...
Pode esperar horas, por atendimento no Pronto Socorro Central...
Perder a paciência, na quilométrica fila do SUS, na Vila Nova...
Comprar sem nota fiscal, no "camelódromo" da Nove de Abril, que chamam de "Boulevar"...
Comer carne de cachorro (segundo dizem as más línguas), fantasiada de coxinha de galinha, em vários botequins da cidade...
Pode ficar doido, procurando táxi, depois das 23 horas...
O Cubatense pode ainda, ser roubado pelos convênios de farmácia do município...
O meu conterrâneo também pode ser "comido" pelos mosquitos, no único motel das redondezas, (o Savage) que fica na Vila esperança...
A tal da Cuba-de-Então, virou Cubatão, e cresceu...
Cresceu, e absorveu problemas de cidade grande...
Seus prédios públicos (e particulares) são impróprios para os Deficientes Físicos e os Idosos...
A Prefeitura Municipal, local de trabalho, mais parece um desfile de modas...
Os aluguéis, estão pela "hora da morte"...
Os vereadores ganham uma pequena fortuna, para defenderem os direitos dos cidadãos de lá, e tomarem cafezinho lendo os jornais, que os chamados "contribuintes", pagam pra eles...
Cubatão já é cidade grande, pelo menos na sacanagem!

Nessa tal de Cubatão, acontece de tudo...

Num daqueles belos dias de sol, com mormaço e noroeste, quando os funcionários públicos rezam para nada acontecer até as dezessete horas, hora de sair, uma senhora adentrou na Prefeitura desesperada!
Em seus olhos, se via a angústia...

Tinha o filho preso; o marido desempregado; o butijão de gás estava terminado; o aluguel com seis meses de atraso; a água e a luz, já haviam sido cortadas, por falta de pagamento; na dispensa e nada tinha para por nas panelas. E por mal de seus pecados, trazia nas mãos uma ordem de despejo!
Em completo desespero, a mulher encostou-se na escadaria, em frente à portaria de entrada dos funcionários, e começou a chorar...
Todos que passavam, escutavam as suas reclamações, mas nada podiam fazer...
Em dado momento, a senhora, sem que ninguém esperasse, ajoelhou-se no chão e bradou:
- "Será que nem Deus, pode me ajudar?!"
Um vigilante, que passava, chamou a senhora a um canto e em voz de sussurro, lhe disse:
- "Olha Dona, se ele pode ajudar, eu não sei! Só sei que ele subiu agora, pelo elevador privativo! A senhora pega essa escada, sobe até o terceiro andar e pergunta onde é o Gabinete! Pode ir sem susto, ele chegou agorinha mesmo. Mas não esquece: aqui, o nome dele, não é Deus não, é Dr. Ney Serra. Provavelmente, ele deverá estar muito ocupado, e terá pouco tempo para atendê-la. A senhora então, resuma seu caso. Ele vai lhe dar um cartãozinho, para que a senhora se dirija à sala ao lado, que é a de Jesus Cristo, para que este dê a solução definitiva ao seu problema. Não hesite... Aproveite a oportunidade. Mas este aqui também tem outro nome, é chamado de Dr. Rubens Marino... Vai com fé que a senhora consegue...

CAPITULO XXI

A arte da política, faz o homem sentir-se mais importante do que realmente é.
A eleição municipal de Cubatão, de 1992, foi o clímax desse ditado.
Quase quinhentos candidatos, para as dezenove vagas do legislativo!
A tal da popularidade foi disputada quase no tapa (às vezes, com os ditos cujos).
Era um verdadeiro dilúvio de personalidades, ideologias, mentalidades e falta de equilíbrio. Literalmente, a propaganda eleitoral invadiu a cidade!
Foi, sem dúvida, uma grande festa da democracia!
Será que os vencedores mereciam a vitória?
Isso agora, não importa muito...
O que importa é que a vontade do povo foi ouvida, e a Câmara Municipal se renovou!
Mas que a eleição de 1992 foi um "barato", isso foi! Inventaram uma tal de Regional, na Vila Nova, que acabou virando ponto de encontro dos cabos eleitorais de plantão da situação...
Deram gritos de ordem, em meio à desordem...
Deram cerveja gelada, enquanto o Hospital estava sem remédios...
Deram show do "Rei", enquanto a água potável estava envenenando gente, na Vila Esperança... Invadiram feiras livres, com panfletos, enquanto despachavam pobres coitados, sem panfleto algum explicando o porquê...
Fizeram promessas impossíveis e tomaram bebedeiras memoráveis...
Houve de tudo, na cidade onde nem Judas, teve coragem de perder suas botinas!
1992 foi o ano em que o povo, virou a mesa!
Políticos de carreira, deixaram a profissão para sempre! Juiz de Paz, bateu bumbo, em plena Nove de Abril, anunciando o "Circo do Seu Lara"...
O titular da Regional da Vila nova, candidato a Vice-Prefeito na chapa da situação, fez da regional sua festa particular!
Os políticos da situação, não perdiam oportunidade para malhar a oposição, que ganhou as urnas, e perdeu o povo

CAPÍTULO XXII

Na minha Cuba-de-Então, que o progresso transformou em Cubatão (sem ao menos me consultar), se cruzava com famílias inteiras, nos calçadões da Nove de Abril, ao cair da tarde...
Falava-se de tudo, na loja do Jorge Farah...
Se tomava sorvete de creme, no antigo bar Sport, na Nove de Abril...
Se jogava conversa fora, na Barbearia do Pedrinho, onde também se lia o jornal do dia...
Se batia foto da família inteira, no Benassi...
Comprava-se a prazo, no Armarinho da Dona Angelina...
Se consultava o filho, no Dr. Mário Ruivo, que não consigo deixar de chamar de Tio Mário...
Falava-se mal do Abel Tenório, mas rezava-se pra ele não ficar sabendo...
Cópias de chaves? Só no Balula...
Fio elétrico? Só na Casa Cacique...
Contabilidade? Só com o Djalma, na Delta...
Pão diário se comprava na Padaria Lisboa, e ferramentas, só na Casa Duarte...
Quando se ia construir, o negócio era passar no Depósito da Guarda...
Se a coisa era Bancária, se procurava o Toninho, no Itaú...
Dos que dizem que a cidade não tem memória, eu discordo...
A memória Cubatense está como que arquivada, na memória...
Na memória de do Dr. Armando Terras; do Jaiminho Ruivo; da Márcia Carolina; do Renato Cunha; da Marilene Monte Real; do Dr. Armando Campinas Reis; do Marcos Campinas; da Silvana Nogueira Campinas, que hoje também é Barbosa, e mãe de dois filhinhos, morando hoje no Casqueiro...
Cada um deles, guarda seu pedaço da Cuba-de-Então, que virou Cubatão, uma Metrópole em miniatura...
Na Cuba-de-Então, pobre era pobre, mas tinha dignidade...
Na Cubatão, pobre é miserável, sobrevive em casebres come uma vez por dia , tem um filho por ano, e respira por pura teimosia...
Existem aqueles, que gostam de dizer, que estou ficando velho, e como todo velho, saudosista...
De fato, já bato às portas do meio século e passei por elas...
Depois dos quarenta, a gente começa a se sentir um perfeito Maomé, com direito a cabelos brancos, esquecimentos esporádicos, falta de sono, tesão recolhido...
Ainda não cheguei no esquecimento de braguilhas abertas, nem nos sonhos erótico-masoquistas...
Esqueço, vez ou outra, nomes de amigos queridos, mas ainda não sou um velho...
A vida resolveu dar-me o direito de vivê-la, e sou-lhe grato por isso!
Se falta-me caminhos a percorrer, espaços por conquistar, sobra-me (não duvidem) vontade e desejo de ir em frente, usando os anos que já passaram como experiência para o futuro...
Colocando tudo na balança, para a devida reflexão, tive uma vida boa... Sem perdas conflitantes...
A vida permitiu-me vê-la e vivê-la , sem ter que olhar pra traz e me arrepender... Não lamento nada, de meu passado. Não sinto medo do futuro!
Ao conhecer a vida, ela deslumbrou-me com o mostrar do mundo, e só este ato, deu-me a certeza de que o viver vale a pena...
Cada dor sentida, recebeu o bálsamo, que cicatrizou a ferida, que não dói mais...
Lições? Por certo a vida deu-me muitas...
Verdades? Conheci algumas...
Amigos? Conquistei uns poucos...
Amores? Ja tive alguns, que o tempo resolveu mandar de ferias, sei lá pra onde!
Sonhos? Realizei alguns, e acordei de uns outros...
Mágoas? Foram apenas algumas... Poucas, que o equilíbrio entre o certo e o errado, se encarregou de fazer sumirem...

CAPÍTULO XXIII

Só para ilustração, vou lhes contar (do meu modo) uma história verdadeira.
Já passava de trinta anos, que aquele senhor estava em seu posto.
Cubatão colecionava Prefeitos, mas ninguém o tirava de sua cadeira, de sua mesa, de sua sala, de suas funções, de seu cargo...
Sim, já tinha tempo para aposentar-se... mas para que? Ficar em casa? Cuidar dos netos?
Não! A Prefeitura era a sua vida...
Ali estavam seus amigos...
Ali construíra seu viver...
Não saberia o que fazer, longe de sua mesa; afastado dos papéis que assinava diariamente; longe de sua agenda de compromissos...
De há muito, era o Juiz de Paz do município...
Conciliava as duas funções, pois ambas o faziam útil ao povo Cubatense...
Conhecia a Prefeitura como a palma da própria mão, pois ajudara a organizá-la, já no longínquo 1949, quando da efetiva emancipação e posse do Dr. Armando Cunha, seu particular amigo...
Bem antes, já compartilhara do desejo emancipatório, nascido na edição de 28 de fevereiro, do hoje extinto "Voz de Cubatão"...
Ali estava sua vida... Sua razão de ser...
O que faria longe da Prefeitura, longe dos amigos, longe do que realmente gostava de fazer?
Era época de início de uma nova administração...
Novo Prefeito... Novos Secretários...
O comentário era que haveriam mudanças...
Entretanto, isso não o preocupava...
Já passara por tantos novos Prefeitos...
Aquilo tudo... Aqueles comentários, para ele eram rotina...
Sairia de férias, como fazia todo ano naquela época...
Porque mudar seus planos? Por uma rotina?
Quando voltasse, tudo estaria como antes...
Em meio à suas merecidas férias, uma supressa: o novo Prefeito mandou publicar na folha oficial do jornal de maior circulação da cidade, a sua portaria de aposentadoria, devidamente assinada e registrada no livro competente...
Aquele que gozava merecidas férias, ao voltar, estaria aposentado do serviço público...
Ato legal? Por certo foi...
Ato normal? Deveria ser, mas não foi ...
Não comunicaram com antecedência, ao funcionário, como era de praxe, nesses casos...
Não o chamaram, como normal seria, para a entrega oficial da portaria...
Simplesmente publicaram, nada mais...
Legal... mas amoral!
De uma forma desumana, anormal, cruel, sem ética alguma e com sarcástica ironia, afastaram da Prefeitura Municipal o Ex- Vice Prefeito; o Ex- Vereador; o Ex-Presidente da Câmara Municipal; Ex-Prefeito Municipal.. O diretor da Receita, desde a criação do cargo!
Aposentaram à revelia, sem solenidade oficial, sem o abraço dos amigos, o Sr. José Rodrigues Lopes, um dos Emancipadores do Município, um homem que, em vida, escreveu seu nome na História de Cubatão!
Tempos depois, após definhar visivelmente, falecia de morte "natural" o nobre filho da terra...
A Câmara Municipal honrou-o com o nome de umas das ruas do município...
Tudo isso aconteceu...
E eu... é que sou o irônico...

CAPÍTULO XXIV

O recordar faz bem à alma. Ao fazer esse pequeno apanhado, do que minha memória registrou, vejo-me como a resgatar o que o tempo se negou a guardar para meus filhos...
Hoje, se meus cabelos já ficaram esbranquiçados, e já tenho uma pequena família a defender, gratificante é deixar os dedos, correrem pelo teclado do computador, e receber o ditado de minha memória...
Como é bom ver renascer pedaços e mais pedaços da história de meu berço...
Se a Poliomielite tirou-me o controle das pernas, o viver social deu-me honestidade, dignidade e honra...
Afinal, que falta me fazem as pernas?
Nesse meu mais de meio século de vida, vi e ouvi muita coisa...
Então, resolvi lhes contar um pouco do que sei:

1) Rodeando a serra do Mar, com início pouco depois da entrada da Refinaria Presidente Bernardes, onde antigamente existia a Capelinha de São Lázaro, começa uma picada, que vai terminar em Mogi das Cruzes. É o caminho dos Monges, e foi muito usado no antigamente.....

2) O Jardim Casqueiro, nos anos cinquenta, era propriedade particular. Pertencia à Família Ruivo, que fez o loteamento e vendeu os terrenos...

3) A maior enchente de Cuba-de-Então, ocorreu no ano de 1958, e alagou 90% do Município...

4) No início da terraplanagem da COSIPA - Companhia Siderurgia Paulista - foi encontrado um cemitério indígena, que foi cercado, e preservado como patrimônio...

5) O Dr. Mário Ruivo formou-se no início da década de cinquenta, e foi o primeiro Cubatense a formar-se em Medicina, especializando-se como "Médico-Parteiro"... O Tio Mário, não gosta muito que a gente chame ele assim, mas o que é que eu posso fazer?... Era assim que se chamavam os Obstetras, há quase cinquenta anos atrás...

6) A Costa Muniz foi a primeira indústria a se instalar em Cuba-de-Então, isso ainda no final do século passado...

7) A cidade de Cubatão possui a mais bem equipada e bem formada equipe de Defesa Civil do Estado de São Paulo, que a gente se acostumou a chamar de "...os meninos da CONDEC"

8) A primeira oficina mecânica, do Município de Cuba-de-Então, foi instalada na década de 30, e ficava na Nove de Abril. A razão social da firma era José Lopes & Filhos...

9) O Dr. Abel Tenório de Oliveira foi assassinado no início dos anos sessenta, na porta do Esporte Clube Cubatão, e era o Prefeito Municipal em exercício. Assumiu em seu lugar, o vice, Sr Valdir Nascimento...

10) O "Cineminha da química" funcionava em casa de madeira, localizada onde hoje está o Esporte Clube Guimarães, já em prédio reconstruído em alvenaria...

11) O saudoso Sr. Manoel Campina Reis, o "Neco Campina", Ex-Funcionário da Câmara Municipal da Cuba-de-Então, em uma partida, como goleiro do Esporte Clube Cubatão, somente no segundo tempo, tomou 29 gols... Mas defendeu três pênaltis, coisa que nunca deixava de nos contar, quando nos relatava este fato... Saudades do bom amigo...

12) O antigo Pronto Socorro Municipal, funcionava onde hoje está o Paço Municipal...

13) O Colégio Júlio Conceição é o mais antigo estabelecimento de ensino do Município. Funcionou durante anos, no prédio onde hoje está instalada a Biblioteca Municipal...

l4) Afonso Schmidt nasceu em Cuba-de-Então, aos 29 de Julho de l890, e foi o único escritor brasileiro, até hoje, a receber três prêmios da Academia Brasileira de Letras, em um único ano, vindo a falecer a 03 de abril de 1964, com 73 anos, em consequência de um inesperado infarto do miocárdio.

15) A Av. Nove de Abril é toda edificada em concreto, com camada de asfalto na superfície, e foi a primeira avenida no gênero, em toda a baixada santista...

16) O único Presidente da Câmara, que ficou no cargo por três legislaturas seguidas, foi o Dr. Edgard da Silva...

17) Na esquina da Rua São Paulo, com a Rua Santos, funcionou durante anos a Coletoria Estadual da Fazenda, em prédio pertencente à família Tomé...

18) O mais jovem Vereador do Município de Cubatão a assumir o cargo, foi Armando Campinas Reis Júnior, em 1988. Também participou da elaboração da Lei Orgânica Municipal, ainda em vigor...

19) A Pedra Fundamental da Via Anchieta, foi colocada no ano de 1939...

20) Levou o número 752, a Lei de 02.05.69, que declarou Zona Comercial, parte da Av. Nove de Abril...

21) A Lei número 796, de l9.01.69, modificou o Brasão Municipal de Cubatão...

22) O Primeiro Presidente da Câmara Municipal de Cubatão, foi o Sr. João Sendra Pontt, que tomou posse em 09.04.1949...

23) A Profa. Maria Aparecida Pieruzzi de Souza foi a primeira mulher a assumir a Presidência da Câmara Municipal de Cubatão, já em 1982...

24) A imagem de Nossa Senhora da Lapa, padroeira do município de Cubatão, foi doada por um jesuíta , e veio de Portugal diretamente para a Igreja Matriz...

25) Dos emancipadores, de l949, somente o Sr. Lindoro Couto estava vivo e bem, em l992...

26) Em 1970, Cubatão possuía 4.070 analfabetos em seu território, segundo Boletim Anual da Prefeitura...

27) O IPTU, do município de Cubatào, não chega a representar 5% da arrecadação geral do Município...

28) A última visita de Afonso Schmidt ao município de Cubatão, sua terra natal, ocorreu em 1962.

29) Durante anos, a cidade teve um veiculo de informação que realmente era imparcial e de força politica indiscutivel, pois falava em nome do povo. Se chamava ( ou ainda se chama, não sei bem, “ Jornal do Poste”, um ótimo ensaio de como deve ser a imprensa, nesta terra ao pé da Serra.

CAPÍTULO XXV

Em Nove de Abril, de 1966, circulou em Cubatào "O FOFOQUEIRO", com edição especial comemorativa ao décimo sétimo aniversário de emancipação política do Município.
Caiu em minhas mãos, um exemplar desta edição, e encontrei nela vários comentários e reportagens, que coloco neste relato, para enriquecê-lo um pouco mais.
Vamos, então, às reportagens desta publicação, que circulou na Cuba-de-Então, onde haviam pessoas que, como os que editaram "O FOFOQUEIRO", eu nunca descobri quem eram, (ou quem era). Gente que sabia colocar humor em suas verdades. E numa homenagem à nossa terra natal, lá vai:

"Cubatão completa hoje 17 anos de vida independente. Bonita idade para uma jovem rica, embora feia. É bem provável que daqui até alcançar a idade predileta de Balzac, isto é, depois dos trinta, a Av. Nove de Abril esteja totalmente pavimentada; a agência postal-telegráfica já funcione em prédio próprio; a SJ tenha construído o ponto de parada próximo ao Jardim Casqueiro: o IAPI funcione em local onde, pelo menos, possa abrigar seus velhos beneficiados; a Coletoria Federal, a que mais arrecada em todo o Litoral, depois de Santos, esteja alojada em local onde, dê aparência de arrecadação; o Posto Fiscal e a Coletoria Estadual, já não precisem morar de favor... e assim por diante. Então, neste dia, festejaremos juntos, o aniversário da Cidade, e a instalação do primeiro buteco... na lua !"
Tudo isso veio a acontecer, bem antes da Cidade completar seus trinta anos... Podemos então, afirmar, que sem sombra de dúvidas, a Prefeitura de Cubatão, apesar de sua pouca pressa, às vezes, em resolver certos problemas, é ainda mais competente que a NASA, pois esta, não instalou seu buteco na lua até os dias de hoje... apesar de já se caminhar pra isso...


O trabalho que "O Fofoqueiro" fez, nos levando ao ano de 1949, quando nossa cidade ganha a verdadeira emancipação política, é uma obra prima, da ironia e do humor :

"l949 - Neste ano, Cubatão foi libertada da tutela de Santos, recebendo como "dote" um orçamento previsto em 249 mil cruzeiros. Houve como era natural, eleições gerais no novo município e a ela concorreram cinco candidatos a Prefeito e algumas dezenas à Câmara Municipal. Feita a apuração, coube o primeiro lugar para Prefeito, ao Sr. Armando Cunha, jovem centroavante do E.C. Cubatão, bananicultor, fazendeiro e proprietário. A Câmara formou-se inicialmente com o seguinte escrete: Álvaro; Benedito; Cláudio; Gentil; Gil; Lara; Olcese; J.Francisco; Pontt; Mayr; Tibiriçá; Raul e Victório. No decorrer do "match", houve diversas substituições, como veremos logo mais.
Assumindo o poder, o Armandinho verificou de imediato da impossibilidade de iniciar o jogo por absoluta falta de mesas, cadeiras, bidés, etc., além de impressos. Como resolver o problema? Armandinho, pensou um pouco e correu até seu antigo Clube. Ali convocou os seguintes craques: Lindoro; Zezinho; Avelino; Flávio e o garoto Lucas. Formada a equipe, embora com prejuízo para o Esquadrão do E.C. Cubatão, foi dada a saída e o jogo começou."

Em outra coluna do referido jornal, encontramos uma visão futurista do que seria Vila Socó, atual Vila São José, pela pena do(a), ou dos(as), editores(as)e redator(a) ou redatores(as) de tão brilhante publicação...

"A conhecida Vila Socó, segundo documentário fixado pela nossa objetiva supra eletrônica, será em futuro próximo um dos pontos mais atraentes de Cubatão. Segundo podemos observar pelas fotos que ensinam esta notícia, os atuais barracos serão eliminados, dando lugar a grandes arranha-céus; as pontes de madeira, serão substituídas por outras em alvenaria, com corrimão de metal; os riachos, depois de saneados, serão transformados em Rios Navegáveis, onde Gôndolas "a Veneza" farão o transporte de passageiros de umas para outras ruas. Terá um conjunto comercial moderníssimo com, inclusive, uma Casas Pernambucanas, porque cidade que se estima não pode prescindir de uma casa que venda tecidos e que traga o carimbo de "Pernambucanas". Haverá , finalmente, uma sub-prefeitura. Será a Princesa do mangue."

A profecia dO Fofoqueiro, só não veio a se concretizar, porque resolveram colocar "fogo", na pretensão do bairro.
Sobre a Câmara Municipal, o referido jornal escrevia:

"A luta é grande pela conquista da Presidência. Cinco, pelo menos, são os candidatos à suprema cúria da Rua São Paulo. Direitos são evocados... a luta esta aberta. O duro mesmo será a composição da mesa: ninguém quer a vice-presidência ou as secretarias, e a razão apresentada é que naqueles postos, o camarada , ou melhor, o camarista, nada ganha além do subsídio... Melhor será, dizem alguns, serem membros das Comissões onde sempre entraram os 10%."

Já naquele tempo, as coisas não eram diferentes do que é hoje, não é?
O referido jornal possuía seu "patrocinador", com direito a criação publicitária e tudo mais:

"Bar e Restaurante São Paulo - Onde você come, assiste brigas e confusões, sem pagar um tostão a mais."

CAPÍTULO XXVI

Em 1951, ano em que a cegonha resolveu "baixar" no terreno do Velho Campinas, e me deixar na casa de meus pais, ali na Rua São Paulo, onde hoje é o Peraltinha, Supermercado inventado para que os donos ficassem mais ricos, a coisa era bem diferente na Cuba-de-Então, pois médico eram só dois: Dr. Luiz e o Dr. Mário Ruivo, recém-formado, que adorava passar as tardes livres, jogando bola no antigo campinho do Esposte Club Cubatão.
Foi lá que meu pai o encontrou... e eu nasci...
Primeiro filho de Arlindo Lopes e Ottila Campinas Lopes e o primeiro neto do Velho Manoel Campinas. Foi uma festa!
Meu pai, na comemoração, esqueceu até o nome que minha mãe havia me reservado, e registrou-me com o nome de um amigo (excelente amigo), foi assim que recebi o nome que hoje tenho.
Com quatro meses de idade, "virei notícia", pois contraí um tal de vírus da Poliomielite, a aí começou a correria.
Naquela época, até isolamento do pedaço do bairro que a minha casa ocupava, houve, pois a "doença" podia ser contagiosa...
Fui ficando grande, tornei-me gente e fiquei "chato"...
Qualidades mais do que suficientes pra ser Funcionário Público Municipal, e foi no que me tornei.

CAPITULO FINAL

Ainda sinto o gosto da carne de capivara, que os antigos caçavam no Rio Cubatão, no tempo em que o Rio nos dava robalos..
Naquele tempo, no Rio Casqueiro, qualquer pessoa conseguia pescar tainhas...
Na Cuba-de-Então, existiam os papagaios bancários... na Cubatão de hoje, há os agiotas...
Na Cubatão de ontem, se pedia a benção ao pai... hoje, se pede a chave do carro ao coroa...
Na Cubatão de antigamente, Armando Campinas Reis Júnior era um pirralho, e nem sonhava em ser genro do Dudu, ou neto, por casamento, do Abel Tenório de Oliveira...
Na Cubatão de meu passado, Seu Caxulo vendia peixes de porta em porta...
Naquele tempo, Doralice Lopes sabia dançar frevo e tocar violão como ninguém, e a Elza Nogueira Campinas, era evangélica de carteirinha...
Vivi meu tempo no tempo certo...
No tempo em que a vida correu, vivi em liberdade...
Sonhei... Acordei...
Não mais me será possível ver o sorriso do Ricardinho, contando histórias pra a vó Maria...
Não mais tenho por perto, meu parceiro de tranca, o Neco Campina, que já está num mundo melhor...
Meu pai, só consigo ver num velho retrato, com moldura prateada, colocada em destaque na estante da minha sala...
Minha vó Joana, que ninguém conhecia, a não ser por Maria Campinas, já foi se encontrar com "Papai-do-céu", e deve estar começando já a olhar por nós, seus filhos, que ficamos nesse mundo dos homens, nem sempre honesto, nem sempre digno, mas o mundo que construímos...
O velho Neco, já deve ter montado uma mesinha pro jogo de "tranca" e convidado seu velho parceiro, o Arlindo Lopes, para umas horinhas de diversão sadia, regada a bom papo e a bom vinho "Sangue de Boi"...
Ricardo Campinas, nosso Ricardinho, já deve ter se acostumado com o novo lar, e por certo, a essa hora, está em bons papos com "Vó Maria", recordando o tempo dos antigamentes, histórias que somente minha saudosa vó, sabia recordar...
Um dia, quem sabe, lá nos encontraremos todos, e poderemos fazer uma grande festa, com baile até de madrugada...
... Sei que um dia isso poderá acontecer realmente, mas no hoje, dói... dói muito a saudade dos que estão do lado de lá, velando por nós...
Gostaria que fosse possível, mas não é...
...Não me é mais possível olhar para o final da rua São Paulo, e ver, ao longe, o velho Manoel Campinas, voltando do porto de areia, com seu inseparável cão, o Pitoco, alegremente abanando o rabo do seu lado...
A lembrança dos dias bons, dói na gente, como doem, as lembranças dos bons amigos...
Longe da minha terra como estou agora, me vem a saudade não do ontem, mas do antigamente, quando se dormia com janela aberta, na Cuba-de-Então, que não volta mais...
Cada momento de recordação, faz chegar aos olhos a lágrima sentida, que se faz presente sem convite algum...
O passado....
Este não retorna!... Por mais que se queira fazê-lo chegar mais perto, ele permanece distante...
Distante no tempo...
Perto, nas recordações...
Mas as solitárias recordações não são suficientes para que possamos satisfazer por completo, a ânsia de revermos os amigos que se foram ou vivermos os momentos, que já estão distantes...
Cada momento, é uma história...
Cada história, é um pedaço de nosso viver...
O tempo apaga tudo, mas não apaga a memória, o recordar brejeiro, como o cair do sol, por detrás da velha Serra do Mar, em tarde de brisa suave...
Dizem que aquele que recorda, revive momento a momento, e não deixa morrer a lembrança...
Deus queira que seja assim,. pois não quero ver morrer em minha memória os momentos de minha meninice, passada ao lado dos meus, com liberdade e confiança no amanhã.
Dói no peito sim, o ato de recordar, mas a dor doída é tão gratificante, que nem chega a ser dor... é mais uma coisa qualquer, que faz o coração ficar como que pequenininho, e a mente viajar para o tempo do ontem, quando o amanhã era o ontem, e o hoje, nem sonhava em existir, e estavam todos lá, José Rodrigues Lopes; Antônio Simões de Almeida; Armando Cunha; Manoel Campinas; Seu Carvalho; Seu Abílio Lopes; Affonso Schmidt e tantos outros, que escreveram o nome de nossa terra, e lhe deram a estrutura que hoje ela possui...
Parece que, com a memória, com o recordar, viajamos no espaço e desembarcamos neste tempo, quando Cubatão era Cuba-de-Então, um lugar bem diferente da cidade, que hoje conhecemos...
Na minha memória, a Nêga aplicava injeção doída, e ainda não representava o povo, na Câmara Municipal...
O tempo passa... com a velocidade do vento noroeste...
CUBA-DE- ENTÃO...
Passou Também....


Carlos Alberto Lopes